A apaixonante arte de contar histórias requer muito estudo, dedicação, bom senso, carinho, criatividade e respeito para entender a sabedoria e a força da ancestralidade que as histórias nos oferecem. O conto de hoje, publicado no livro O Ofício do Contador de Histórias, de Gyslaine Mattos e Inno Sorsy, nos fala de um rei que não percebeu nada disso...
O
Melhor Contador de Histórias
ERA UMA VEZ.... um rei. Não era um rei feliz. Ele notou que seus súditos não
prestavam atenção a menor atenção em seus decretos e mandatos. Percebeu também
que eles se aglomeravam e se sentavam aos pés dos contadores de histórias na
praça do mercado, nas casas de chá ou nas pousadas.
O rei decidiu aprender o segredo dos contadores de histórias. Convidou-os ao
palácio com essa finalidade. Alguns disseram que era a sua linguagem, outros
que era a experiência, outros, ainda, que era a imaginação.
Cansado de ouvir tantas opiniões, o rei despediu-se deles pedindo que se
dedicassem a escrever artigos sobre as qualidades de um bom contador de
histórias. Os contadores voltaram após cinco anos com milhares de papéis escritos. Mas, de
novo, o rei ordenou que voltassem com uma informação condensada de tudo aquilo.
Cinco anos se passaram quando voltaram trazendo um livro bastante pesado. O rei
não tinha tempo para ler, pois estava muito ocupado com as questões políticas
do reino. Pediu-lhes, então, que fizessem um resumo de uma página com o
essencial daquelas informações.
Os contadores passaram mais cinco anos trabalhando na essência do assunto.
Finalmente, apareceram com uma folha de papel e entregaram-na ao rei.
O rei pensava que, de posse desse conhecimento, poderia tornar-se o único
contador do reino. Aqueles eram seus rivais, obviamente. Mesmo tendo trazido
seu precioso conhecimento sobre como se tornar o melhor contador, ainda assim
eles seriam competidores, e o rei queria ser o melhor deles. Inevitavelmente,
se o rei se livrasse de todos eles, não haveria como não se tornar o único e o
melhor contador do reino.
Assim, o rei anunciou que iria agradecer pessoalmente a um por um o trabalho.
Afinal, anos de dedicação haviam tornado possível aquele projeto.
Assim foi feito: ele recebia cada um, oferecia-lhe um prêmio e apontava a porta
de saída. Do outro lado, porém, encontrava-se o carrasco esperando para
executar o pobre infeliz, mandando-o para o outro mundo.
Depois que o rei finalmente ficou sozinho, com suas mãos tremulas, abriu o
papel preparado para ele. Lá estava escrita somente uma frase:
“O melhor contador de histórias é aquele cujas histórias são lembradas muitos e
muitos anos depois que seu próprio nome tenha sido esquecido.”
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