Conta-se que na África Ocidental não havia histórias. E, por isso, não havia também sabedoria. O mundo era muito triste. Assim, o primeiro contador de histórias foi também um buscador de histórias, que saiu pelo mundo afora acompanhado de um pássaro-escrivão: o marabu. Esse é o único pássaro que sabe qual das penas do seu traseiro deve ser arrancada para que, com ela, se possa escrever – o que faz dele um pássaro especial. Andaram pelo mato afora, pelas savanas e ao longo dos rios para escutar os ventos, as pedras, as águas, as árvores e os animais. E encontraram muitas pessoas até então desconhecidas, que iam lhe contando as suas histórias.
Munido da
pena arrancada de seu traseiro e utilizando uma tinta feita de água, pó de
carvão e goma arábica, o marabu-escrivão anotava cuidadosamente todas as
histórias que escutava. E o buscador e contador de histórias caminhava e
pensava “não vou conseguir me lembrar de todas essas histórias”. Mas o marabu
continuava a ouvir e a escrever.
Quando,
depois de muito tempo, voltaram para casa, o buscador de histórias obteve a
solução para aquilo que o preocupava. Seguindo o conselho do marabu, encheu de
água uma grande cabaça e nela mergulhou todas as histórias escritas. Durante toda a noite, naquela cabaça – que na
África chama-se canari – as palavras
escritas com tinta se dissolveram na água. No dia seguinte, o marabu mandou que
o contador de histórias bebesse todo o conteúdo daquela canari.
Assim,
todas as histórias bebidas tornaram-se histórias sabidas.
E se você,
por acaso, precisar beber uma história, escute o meu conselho: beba tudo. Não
deixe nada no fundo do copo, porque isso poderia provocar um branco na sua
memória.
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