Estou fazendo
um trabalho para o Dia da Mulher e, para isso, lendo muitos contos. Li coisas
muito lindas e diria que tudo o que li é muito libertador. Foi assim que puxei
da estante um livro instigante, que minha filha Mariana me deu de presente há
quase três anos. É de autoria da espanhola Nunila López Salamero, com
ilustração de Myriam Sierra. Chama-se
A Cinderela mudou de ideia
A Cinderela tinha tanta vontade de ir à
festa... que finalmente conseguiu. Mas ficou tão ansiosa que na manhã seguinte
não se lembrava de nada. Mas ali estavam dois homens com o sapato de cristal de
salto de um palmo de altura e bico fino, esperando para que ela o
experimentasse. No começo, não cabia no seu pé. Mas apertou e apertou até que
coube. E enfiou o pé (na jaca) porque teve de se casar com o príncipe!
O príncipe adorava carnes, especialmente de
aves como as perdizes. E Cinderela era vegetariana, mesmo assim tinha que
cozinhar as perdizes porque era a comida preferida do príncipe. Preparava-as na
chapa ao forno, recheadas, fritas... E o príncipe gritava mal-humorado porque
ela nunca fazia as perdizes ao seu gosto. Que desgosto!
E pior, tinha que andar com o sapato de
cristal, de salto de um palmo de altura e bico fino. Que vertigem! No início,
tentou manter as costas eretas, mas caía para trás, de modo que foi se
inclinando. E por suas costas foram deslizando todos os seus ideais e
expectativas. E a sola do pé completamente arrebentada. Isso é horrível! Cinderela estava cada vez
pior: doente, deprimida, perdida.
Um dia, decidiu contar para as pessoas essa
confusão de príncipe, sapatos e perdizes. Aí Cinderela se confundiu ainda mais
com os comentários das pessoas, parou de contar e ficou sozinha. Só lhe restaram
seu “amado” príncipe, as costas tortas, os pés arrebentados e o coração em frangalhos.
Mas um dia teve a sorte de ver a si mesma. E
começou a rir de si mesma, de como havia sido inocente ao pensar que um
príncipe a salvaria, Depois de anos vivendo com um, percebeu que príncipes não
salvam,,, nem os caminhoneiros, nem os DJs, nem as docerias... Parou de se
sentir culpada, perdoou-se e percebeu que a única capaz de salvá-la era ela
mesma !
Então
a Cinderela disse CHEGA e apareceu a fada, que era uma grande surpresa: a fada do
Chega. Assim que a fada viu Cinderela,
abraçou-a, e Cinderela, no momento em que se sentiu acolhida, começou a chorar.
Fazia tanto, tanto tempo que não chorava... Primeiro, começou chorando pelo
príncipe, pelas perdizes mortas e pelos sapatos, Depois, continuou chorando ao
lembrar-se que sua madrasta a maltratava, que seu pai a tratava pior e que suas
irmãs quase morrem para entrar em um modelito 38.Chorou tudo, tudo. Chorou também
por vidas anteriores, por via das dúvidas.
E se sentiu melhor que nunca. Em primeiro
lugar, largou o príncipe, Depois, largou os sapatos e as perdizes. E, estando
sozinha, descobriu que queria aproveitar seu corpo, que havia sido tão
castigado. Descobriu a dança e compreendeu que para dançar só é preciso ter
vontade. Tanto faz calçar 42, pesar 90 quilos, medir 1,92 ou ter 80 anos. Todas
temos uma dançarina escondida dentro de nós.
Aprendeu a se recolher, a tirar um tempo
para si e a confiar. E assim, no caminho da transformação, conheceu outros
seres com quem acontecia a mesma coisa que com ela. Uma vez livres, puderam
realizar seus sonhos, ajudando uns aos outros. Cinderela montou um
restaurante/cabaré vegetariano, chamado “Harmonia de sobra”, onde, além de
comer, não paravam e dançar. Era uma vez, umas mulheres que não estavam
sozinhas e uma perdizes que voavam felizes...
Assim
terminou a história da Cinderela que mudou de ideia. Mas preciso ainda colocar
aqui a dedicatória que minha filha Mariana escreveu no livro que me presenteou:
“Para minha Cinderela, inspiradora de tudo que sou! Estamos juntas, hoje e
sempre. Te amo”. Viu, não dava para deixar de dizer que essas palavras
significam tudo para mim.
Um comentário:
Estava passeando aqui e ali e encontrei seu blog. Estou encantada e percebi como estou afastada das histórias. Vou ser avó e lendo seu blog descobri que preciso voltar ao mundo encantado das letrinhas e "beber muitas histórias e vou beber tudo, não deixar nada no fundo do copo", como num conto que li páginas atrás, para ter muitas histórias pra contar à minha netinha.
Adorei, obrigada!!!
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