quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Mulheres fortes e juntas. Hoje e sempre.


Estou fazendo um trabalho para o Dia da Mulher e, para isso, lendo muitos contos. Li coisas muito lindas e diria que tudo o que li é muito libertador. Foi assim que puxei da estante um livro instigante, que minha filha Mariana me deu de presente há quase três anos. É de autoria da espanhola Nunila López Salamero, com ilustração de Myriam Sierra. Chama-se

A Cinderela mudou de ideia
     A Cinderela tinha tanta vontade de ir à festa... que finalmente conseguiu. Mas ficou tão ansiosa que na manhã seguinte não se lembrava de nada. Mas ali estavam dois homens com o sapato de cristal de salto de um palmo de altura e bico fino, esperando para que ela o experimentasse. No começo, não cabia no seu pé. Mas apertou e apertou até que coube. E enfiou o pé (na jaca) porque teve de se casar com o príncipe!
    O príncipe adorava carnes, especialmente de aves como as perdizes. E Cinderela era vegetariana, mesmo assim tinha que cozinhar as perdizes porque era a comida preferida do príncipe. Preparava-as na chapa ao forno, recheadas, fritas... E o príncipe gritava mal-humorado porque ela nunca fazia as perdizes ao seu gosto. Que desgosto!
     E pior, tinha que andar com o sapato de cristal, de salto de um palmo de altura e bico fino. Que vertigem! No início, tentou manter as costas eretas, mas caía para trás, de modo que foi se inclinando. E por suas costas foram deslizando todos os seus ideais e expectativas. E a sola do pé completamente arrebentada.  Isso é horrível! Cinderela estava cada vez pior: doente, deprimida, perdida.
   Um dia, decidiu contar para as pessoas essa confusão de príncipe, sapatos e perdizes. Aí Cinderela se confundiu ainda mais com os comentários das pessoas, parou de contar e ficou sozinha. Só lhe restaram seu “amado” príncipe, as costas tortas, os pés arrebentados e o coração em frangalhos.
   Mas um dia teve a sorte de ver a si mesma. E começou a rir de si mesma, de como havia sido inocente ao pensar que um príncipe a salvaria, Depois de anos vivendo com um, percebeu que príncipes não salvam,,, nem os caminhoneiros, nem os DJs, nem as docerias... Parou de se sentir culpada, perdoou-se e percebeu que a única capaz de salvá-la era ela mesma !
   Então a Cinderela disse CHEGA e apareceu a fada, que era uma grande surpresa: a fada do Chega.  Assim que a fada viu Cinderela, abraçou-a, e Cinderela, no momento em que se sentiu acolhida, começou a chorar. Fazia tanto, tanto tempo que não chorava... Primeiro, começou chorando pelo príncipe, pelas perdizes mortas e pelos sapatos, Depois, continuou chorando ao lembrar-se que sua madrasta a maltratava, que seu pai a tratava pior e que suas irmãs quase morrem para entrar em um modelito 38.Chorou tudo, tudo. Chorou também por vidas anteriores, por via das dúvidas.
   E se sentiu melhor que nunca. Em primeiro lugar, largou o príncipe, Depois, largou os sapatos e as perdizes. E, estando sozinha, descobriu que queria aproveitar seu corpo, que havia sido tão castigado. Descobriu a dança e compreendeu que para dançar só é preciso ter vontade. Tanto faz calçar 42, pesar 90 quilos, medir 1,92 ou ter 80 anos. Todas temos uma dançarina escondida dentro de nós.
   Aprendeu a se recolher, a tirar um tempo para si e a confiar. E assim, no caminho da transformação, conheceu outros seres com quem acontecia a mesma coisa que com ela. Uma vez livres, puderam realizar seus sonhos, ajudando uns aos outros. Cinderela montou um restaurante/cabaré vegetariano, chamado “Harmonia de sobra”, onde, além de comer, não paravam e dançar. Era uma vez, umas mulheres que não estavam sozinhas e uma perdizes que voavam felizes...

Assim terminou a história da Cinderela que mudou de ideia. Mas preciso ainda colocar aqui a dedicatória que minha filha Mariana escreveu no livro que me presenteou: “Para minha Cinderela, inspiradora de tudo que sou! Estamos juntas, hoje e sempre. Te amo”. Viu, não dava para deixar de dizer que essas palavras significam tudo para mim.