quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Cola tudo para o novo ano

Final de ano chegando e, com ele,  aquela inevitável e boa sensação de que o novo ano será melhor. E será mesmo... é bom acreditar nisso. E para não olhar para trás, versinhos singelos de Flora Figueiredo.                       

 COLA-TUDO

Encontrei um verso fraturado,
Caído na esquina da rua do lado.
Tinha se perdido de um coração saudoso
Que passava por ali, desiludido.
Coloquei-o de pé,
Emendei seus pedaços,
Refiz suas linhas,
Retoquei seus traços.
Afaguei suas dores como se fossem minhas.
Agora, novamente estruturado,
Espero que ele não olhe para trás
E não misture sonhos
Com amargas falências do passado;
Que saiba enfeitar a estrela lá na frente
Com fartos laços de rima colorida.
... Pois é para o futuro que caminham
Todos os passos apressados desta vida.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Um conto de Natal

Procurei um conto de Natal para o blog esta semana e encontrei este que, segundo referências, é baseado em uma história de Natal atribuída a León Tolstoi. É um conto cristão um pouco óbvio e muito singelo. Por isso, peço que esqueçam a obviedade e deliciem-se com a generosidade deste belo conto.

O Aldeão
Um aldeão russo, muito devoto, constantemente pedia em suas orações que Jesus viesse visitá-lo em sua humilde choupana.
Na véspera do Natal sonhou que o Senhor iria aparecer-lhe. Teve tanta certeza da visita que, mal acordou, levantou-se imediatamente e começou a pôr a casa em ordem para receber o hóspede tão esperado.
Uma violenta tempestade de granizo e neve acontecia lá fora. E o aldeão continuava com os afazeres domésticos, cuidando também da sopa de repolho, que era o seu prato predileto.
De vez em quando ele observava a estrada, sempre à espera...
Decorrido algum tempo, o aldeão viu que alguém se aproximava caminhando com dificuldade em meio a borrasca de neve. Era um pobre vendedor ambulante, que conduzia às costas um fardo bastante pesado.
Compadecido, saiu de casa e foi ao encontro do vendedor. Levou-o para a choupana, pôs sua roupa a secar ao calor da lareira e repartiu com ele a sopa de repolho. Só o deixou ir embora depois de ver que ele já tinha forças para continuar a jornada.
Olhando de novo através da vidraça, avistou uma mulher na estrada coberta de neve. Foi buscá-la, e abrigou-a na choupana. Fez com que sentasse próximo à lareira, deu-lhe de comer, embrulhou-a em sua própria capa...
A noite começava a cair... Não a deixou partir enquanto não readquiriu forças suficientes para a caminhada. E nada de Jesus!
Já quase sem esperanças, o aldeão novamente foi até a janela e examinou a estrada coberta de neve. Distinguiu uma criança e percebeu que ela se encontrava perdida e quase congelada pelo frio...
Saiu mais uma vez, pegou a criança e levou-a para a cabana. Deu-lhe de comer, e não demorou muito para que a visse adormecida ao calor da lareira.
Cansado e desolado, o aldeão sentou-se e acabou por adormecer junto ao fogo. Mas, de repente, uma luz radiosa, que não provinha da lareira, iluminou tudo!
Diante do pobre aldeão, surgiu risonho o Senhor, envolto em uma túnica branca! - Ah! Senhor! Esperei-O o dia todo e não aparecestes, lamentou-se o aldeão...
E Jesus lhe respondeu: "Já por três vezes, hoje, visitei tua choupana: O vendedor ambulante que socorrestes, aquecestes e deste de comer... era Eu! A pobre mulher, a quem deste a capa... era Eu! E essa criança que salvaste da tempestade, também era Eu..."

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Pó de Sono e Poesia

Sabem aquela história do Mais prá lá do Quipracá? Pois é, prosa e poesia se encontram nas vozes dos seres mágicos que habitavam a Terra do Sono. E essa história foi contada no blog Pó de Sono e Poesia. Alexandra Pericão, Tamara Elis e eu contamos a história de Flávia Muniz, recheada com rimas gostosas, poesias deliciosas, música e muita brincadeira.
http://sonoepoesia.blogspot.com/2011/12/normal.html?spref=fb

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Curtas e Birutas 2

Quem está entrando somente hoje no blog, vou explicar. Ontem comecei a contar a história da Bruxa Uxa o o Elefantinhozinhozinhozinho. É da Sylvia Orthoff e está publicada no livro Histórias Curtas e Birutas. Vai no post de ontem para conhecer bem a história, por favor. E abaixo, começo a segunda parte.


Pois é, a Bruxa Uxa tinha acabado de cair, quebrando a sua 88a. vassoura e encontrado o elefantinho.
- Como é seu nome? - perguntou o elefantinhozinhozinhozinho.
- Meu nome é Uxa, a Bruxa. E então, a bruxa percebeu que ele já estava dormindo. Culpa das estrelas. Sempre que a bruxa Uxa sai, as estrelas, chatíssimas, cantam cantigas de ninar elefantes. Uma droga. Uxa queria conversar com o elefantinho, perguntar aquelas bestagens todas que o adulto pergunta, assim na base de quantos anos você tem, você já está no colégio, etc e tal. Mas o elefantinho dormia, roncava, e as estrelas, esganiçadíssimas, desafinavam cantigas de embalar. Pouco a pouco, todos os elefantes dormiam.
Aí, Uxa pegou uma violeta gigante disse abracadabra, jogou pro céu, acertando todas as estrelas, que caíram, ficando pequeninas, menores do que os elefantes.
Depois, Uxa pegou um palito de fósforos, que naquele país era enorme, amarrou uns cabos de capim gigante (que lá era capim anão) e fabricou outra vassoura. Montou, voou, subiu, desceu, contou uma piada, riu alto e acordou o elefantinho.
- Quantos anos você tem? - perguntou Uxa.
- Eu tenho a idade do faz de conta, dividido por duas bruxas vezes sete! - respondeu o elefantinho
- E você já vai ao colégio, elefantinho?
Foi aí que o elefantinho ficou danado. Que mania que têm os adultos de fazerem SEMPRE as mesmas perguntas!
O que o elefantinho respondeu, não posso dizer. É palavrão elefântico. Naquele país, palavrão é palavrinha... mas aqui, se eu disser, os adultos, SEMPRE IGUAIS, vão implicar. Mas você pode completar... depois, passe uma borracha, pra sua tia não desmaiar, tá.
A bruxa Uxa desmaiou ! Só acordou 300 anos depois. Nem reparou que os tempos tinham mudado. Continua fazendo as mesmas perguntas para outras crianças...

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Curtas e birutas

Sylvia Orthoff produz textos encantadores e muito envolventes. Delícia de contar. O texto abaixo está no livro Histórias Curtas e Birutas, cuja primeira edição foi publicada em 1982. De lá prá cá, ela criou várias outras histórias curtas, birutas, engraçadas, enroladas, de trás prá frente, caindo pelas tabelas, etc e tal. Bom, vamos começar por essa. 


A Bruxa Uxa e o elefantinhozinhonhozinhonhozinho
Quando a bruxa Uxa sai na sua vassoura, os gatos miam, a lua fica roxa, o céu fica cheio de estrelas  que cantam cantigas de ninar elefantes, umas cantigas dificílimas, que só estrelas sabem cantar e que só os elefantes sabem ouvir. São coisas de encantamento, não dá para explicar. Quem quiser acreditar, acredite. Eu não acredito, mas invento e acabo acreditando.
A bruxa Uxa é muito gorda, tão pesada que já quebrou oitenta e sete vassouras. As bruxas usam vassouras pra voar, deixam tudo sem varrer, viram o mundo de pernas prá lá. Assim é Uxa, a bruxa: tem olhos da cor do mar, com dois peixes dentro, nadando. Tem cabelos cor de mel, melados, cheios de abelhas maravilhosas. Tem pernas pra que te quero, que são pernas que dão um trabalho infernal para os desenhistas desenharem. 
A bruxa Uxa, naquela noite, deu três gargalhadas, sacudiu a pança. montou a vassoura e voou em linha reta, em círculo, em oval, em triângulo mineiro. Dificílimo voar em triângulo mineiro, por causadas minas, muito gerais. 
Mas Uxa é bruxa, lá vai ela, voa, voa até chegar num lugar cheio de elefantes pequeninos. Fica num país longe, onde tudo que aqui é grande lá é pequeno. Lindo !
A bruxa chegou, foi chegando pum! ploc! pof! A vassoura número oitenta e oito quebrou em oitenta e oito pedaços. A bruxa caiu bem em cima de uma plantação de violetas enorme. Naquele país, as violetas são enormes e os girassóis tão pequeninos que parecem mosquitos. A bruxa caiu, achou um barato, ficou toda violetada, perfumada, sacudiu as abelhas dos cabelos de mel, piscou os peixes dos olhos, bailou ao luar. 
Aí, chegou um elefantinho perto dela. Era do tamanho do desenho que você está vendo... não, o desenhista errou: era menor, xente !


E como essa história é curta e biruta, vou parar de contar, porque a outra parte fica prá amanhã.

domingo, 4 de dezembro de 2011

O DOM DA HISTÓRIA

Final de semana cheio de histórias. A começar no sábado, pela manhã, quando participei do programa da Elaine Gomes, Que História é Essa. Elaine e eu, que não paramos de falar um minuto, falamos do lançamento do livro dela, na semana passada, na Livraria Cultura, falamos do ano que está terminando, do que vai começar, de planos, livros, e um monte de coisas. E ainda deu tempo para contar histórias. O repertório foi montado com "Contos de Generosidade". Entre eles, contei uma história que faz parte do livro O Dom da História, de Clarissa Pinkola Estés. Conectada ao programa, estava Elaine Cunha, que pediu no ar para que eu postasse esta história. Então aqui vai, com um beijo especial para as Elaines que dividiram a manhã de sábado comigo.


Viviam apaixonados uma linda moça e um belo rapaz. Embora tivessem perdido muito com a guerra, eles ainda possuíam dois bens valiosos para os dois. O rapaz havia conseguido não se desfazer do relógio de bolso de seu avô e se sentia-se orgulhoso em informar as horas tirando-o de seu bolso do colete surrado. E a moça, apesar de mal nutrida há muito tempo, ainda tinha uma longa e vasta cabeleira, que mais parecia um manto quando a moça a soltava. E assim, ricos dessa forma simples, o jovem casal  levava a vida, tentando ganhar alguns centavos com a vendas de pequenas frutas. 
O Natal chegou e a moça queria muito dar ao marido um presente, depois de tantos natais. Mas não tinha dinheiro. Ao invés de se lamentar, arquitetou um plano: vestiu seu casaco surrado e saiu para a rua. Passou por lojinhas com pouquissimas mercadorias, entrou em um prédio escuro e bateu na porta de uma senhora que, antes da guerra, vendia perucas para mulheres ricas.  Em três tesouradas, seus lindos e longos cabelos caíram no chão. A velha jogou três moedas nas mãos dela, que correu pra uma rua onde sabia que encontraria um homem que vendia correntes para relógios. Ela comprou uma e correu para casa, feliz da vida, certa de que esse seria o mais querido e inesperado presente para o marido.
Este, por sua vez, estava ocupado em procurar também um presente para a jovem esposa. Dinheiro, tinha pouquíssimo, mas já sabia o que seria. Uns pentes, muito simples, mas que nos longos cabelos da moça, seriam o mais belo adorno que ele já teria visto. Desta forma, não teve dúvidas: vendeu o relógio para comprar o presente da amada. E assim foi, comprou e correu para casa.
Ao chegar, a jovem esposa de cabelos muito curtos o esperava. Ao vê-la, o rapaz mal pode esconder a decepção. Ela, já chorosa, perguntava o tempo todo se ele não tinha gostado, mas que não ligasse, porque os cabelos cresceriam, que os havia cortado por uma causa justa, etc, etc.
Foi quando ele, sem poder dizer nada, lhe entregou os pentes. Ela, ao ver que recebera um presente que não lhe teria utilidade alguma, não disse palavra, pegou o pequeno embrulho da corrente do relógio que havia comprado para ele. O marido, ao receber um presente igualmente inútil, contou-lhe da venda do relógio.
E neste momento, foi um misto de choro e riso. Eles se abraçaram, riram e choraram, fazendo promessas mútuas de que o futuro seria melhor. Afinal, tinham um ao outro. E um grande e verdadeiro amor, o que era o suficiente. E aquela foi a mais inesquecível noite de Natal que ambos tiveram.