quarta-feira, 16 de julho de 2014

Qualquer coisa não!

Considero que respeitar o poder de escolha de cada um é uma das medidas mais certeiras para se tentar ser feliz. Principalmente se você souber escolher. Nada de se contentar com as coisas como estão, se conformar, etc e tal. Isso é um perigo. E como eu ainda respeito o meu poder de escolha e de indignação com as coisas que nos agridem, pensei em contar a história abaixo. É de Adriana Falcão, extraída do livro  "Sete histórias para contar".

Qualquer coisa serve 

Biscoito? A menina gostava.
Boneca? Gostava.
Dia de chuva? Gostava também.
Barata? Também gostava.
A menina gostava de qualquer coisa boa e de qualquer coisa ruim. Ela nem pensava. Ia logo gostando de qualquer brincadeira, de qualquer besteira, qualquer programa de televisão, de qualquer música, qualquer nota, qualquer lugar, qualquer um.
Nada precisava ser bom para agradar a menina. 
Tudo estava bom do jeito que estava.
E tudo que estava em volta dela foi ficando com uma preguiça de ficar melhor. E foi ficando de qualquer jeito.  Cada besteira, cada brincadeira, cada programa de televisão. Cada música, cada nota, cada um, cada lugar. 
Até que um dia, a menina ouviu alguém falar assim "Essa menina gosta de cada coisa..." 
E ela não gostou nem um pouco disso. 
Finalmente, existia uma coisa no mundo de que a menina não gostava.  
E passou a separar as coisas boas das coisas ruins. 
Mas o melhor é que, a partir de então, cada brincadeira, cada besteira, cada programa de televisão, cada música, cada nota, cada lugar, cada pessoa, cada coisa, tinha que ser melhor para agradar a menina. 
E, devagarzinho, aos pouquinhos, pedacinho por pedacinho, o mundo foi ficando melhor, junto com cada coisa.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Dia de oferecer histórias

Lembrei dessa história hoje. Eu já havia postado, mas acho que sempre vale a pena lê-la. Ela é um grande alento para nós, contadores de histórias. Que nossas palavras continuem encantadas, que nossos corações continuem abertos e nossa alma continue plena. E que esse nosso ofício contribua cada vez mais para tornar o mundo mais leve e as pessoas mais felizes. Por isso, publico novamente essa história, generosamente oferecida pela encantadora Clarissa Pinkola Estes.

O Dom da História

O amado Bal Shem Tov estava à morte e mandou chamar seus discípulos.
- Sempre fui o intermediário de vocês e, agora, quando eu me for, vocês terão que fazer isso sozinhos. Vocês conhecem o lugar da floresta onde eu invoco a Deus? Fiquem parados naquele lugar e ajam do mesmo modo. Vocês sabem acender a fogueira e sabem dizer a oração. Façam tudo e Deus virá.
Depois que Bal Shem Tov morreu, a primeira geração obedeceu exatamente as suas instruções. E Deus sempre veio.  Na segunda geração, porém, as pessoas já haviam se esquecido do jeito que se acendia a fogueira como Bal Shem Tov lhes ensinara. Mesmo assim, elas ficavam paradas no local especial da floresta, diziam a oração e... Deus vinha.
Na terceira geração, as pessoas já não se lembravam de como acender a fogueira, nem do local da floresta. Mas diziam a oração assim mesmo. E Deus vinha.
Na quarta geração, ninguém se lembrava de como se acendia a fogueira, ninguém sabia mais em que local exatamente da floresta deviam ficar e, finalmente, não conseguiam se recordar nem da própria oração. 
Mas uma pessoa ainda se lembrava da história sobre tudo aquilo. E essa pessoa relatou essa história em voz alta.
E Deus ainda veio...