domingo, 30 de outubro de 2011

Pé de Estrela

Exercício maravilhoso e provocativo do Giuliano. Resultado sempre gratificante. Terminei de escrever e pedi para a Márys Brambilla ler. E, quando ela terminou de ler, Giuliano sorriu e quase decretou "este vai pro blog". Vai, vai sim. Aqui está:


Pé de estrela ! 
Quem plantou ?
Havia ventado tanto, que as emoções foram todas levadas junto com o vento. Emoções, segredos e histórias - aquelas contadas e não contadas. Era tudo tão imprevisto, o caminho tão difícil, quase um sono sem sonhos. Tinha até um castelo, mas que não dava para brincar.
E o desejo era tanto, tanto, que houve um dia em que aconteceu que tudo se evaporou. E você sabe, né, vapor que sobe para o céu,  tem essa história de virar nuvem e também da nuvem virar chuva...
Mas o certo foi que ali, ao invés de virar vapor, nuvem, chuva,  tudo aquilo virou semente ...
Semente de estrela.
Que a gente plantou.
Vagarosamente...
E sem medo algum.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Almodóvar


Almodóvar nasceu para ser príncipe. Mesmo ainda criança, já demonstrava o quanto seria robusto e musculoso. Tinha olhos azuis penetrantes, não este azul de um dia claro de muito Sol. Mas um azul do fim do entardecer, quase marinho como a noite. Alegre e brincalhão, Almodóvar crescia para viver o seu quinhão de felicidade, o que deve ser básico para quem, afinal, nasceu.
Mas ao príncipe estava reservada uma parte da história que acontece em muitos casos principescos, não que seja boa, mas que acontece: Almodóvar foi ferozmente atacado. Não por um dragão cuspidor de fogo ou um exército inimigo fortemente armado, como acontece em grandes aventuras. Não, Almodóvar foi covardemente agredido por um inimigo inexplicavelmente estranho, desses que só fazem maldade por fazer, sem muita explicação.
Almodóvar, criança que era, ficou muito machucado, até queimado. Príncipe que era, foi jogado em um calabouço, onde lutou pela vida, resistindo ao máximo a fome, frio e às dores. Algum tempo se passou, até que surgiu mais um acontecimento digno de histórias de príncipes – e desta vez bom: Almodóvar foi salvo por uma fada madrinha. Dessas fadas decididas, que sabem o que estão fazendo. A fada cuidou do principezinho, que foi logo adotado pelos mais generosos reis daquele reino.
O principezinho cresceu amado, belo e saudável. E mais tarde, como é de se supor em contos de fadas, de príncipes, reis e rainhas, Almodóvar casou-se com uma linda princesa, chamada Valentina, que, como ele, também tinha sido ferozmente atacada por esse mesmo inimigo estranho, que sem explicações, machuca inocentes criaturas.

O gato Almodóvar, que foi preso em um bueiro, teve seu bigode arrancado e seu nariz queimado, casou-se com a gatinha Valentina, que também havia sido presa, jogada no lixo, tivera seu rabo quebrado e sua patinha arrancada. Apesar de tanta violência, eles foram salvos. E, criados por reis e rainhas de um reino bom, foram felizes para sempre. Ah, eles tinham a mesma fada madrinha !

domingo, 23 de outubro de 2011

Uma doce experiência

Seu soninho, cadê você?
Os animais acabaram de almoçar e estão prontos para tirar a soneca da tarde. Todos menos Jacó, um jacarezinho que não pára quieto. Até parece que ele sentou no formigueiro, mas o caso é outro: Jacó acha que seu Soninho esqueceu dele, e resolve ir procurá-lo. Acontece que ele sai aos berros, pela floresta afora, e impede seus amigos, um por um, de dormir.
Até que os bichos entendem a dificuldade pela qual está passando Jacó, e lhe explicam que para dormir não é preciso gritar pelo sono. Eles então cantam uma canção de ninar, que faz Jacó adormecer rapidinho. 


   Esta é a sinopse da história que contei num sábado desses no Hospital Infantil Sabará, onde sou voluntária. É sempre uma experiência gratificante e absolutamente enriquecedora contar histórias para crianças em hospital. Eu poderia falar longamente sobre isso aqui, mas gostaria de contar uma única experiência.
    Entrei com esse livro, junto com minha amiga Elaine, minha treinadora da Associação Viva e Deixe Viver, no quarto de um lindo menino, que aparentemente tinha uma doença grave. O nome dele, da avó ou da doença não vem ao caso aqui. Mas o fato é que ele parecia ter muita dor. A avó, com aquele coração enorme que só as avós têm, e com aquela vontade de fazer qualquer coisa para que o seu bebê parasse de sentir dor, correu para ele e disse sorrindo, certa de que poderíamos trazer alguma espécie de bálsamo para aquele momento: "veja querido, elas são contadoras de histórias, vamos ouvir, vai ser bom".
    O menininho abriu os olhinhos e concordou. Mal conseguiu sorrir mas acenou com a cabeça. Senti que talvez ele preferisse dormir, mas acredito também que a avó tenha dito duas expressões mágicas que devem ter chamado a atenção dele naquele momento "contar histórias" e "vai ser bom". Então, percebi que ele não conseguiria abrir os olhos e o livro "Seu soninho, cadê você", seria a melhor opção naquele momento. Cheguei perto dele e disse bem baixinho que iríamos buscar o seu soninho para ele - juro que eu torci para que ele dormisse mesmo, para parar de doer...
    Abri o livro e comecei a contar bem baixinho, quase sussurrando, em pé mesmo, do ladinho dele. Então, a avó carinhosamente trouxe uma cadeira ali onde eu estava para que eu me  sentasse. Sorri para ela e sentei, fiquei então com meu rosto mais perto do rostinho daquela criança que deveria ter talvez cinco ou seis anos.  Com a proximidade, o menininho abriu os olhos e eu me animei ainda mais para, mesmo contando bem baixinho, mostrar as páginas coloridas e interativas do livro.
    Qual não foi nossa surpresa quando, depois de umas três páginas, ele sorriu e disse "olha o macaco na árvore". Sorrimos nós três - ele tinha saído daquela terrível sensação de dor e entrado na história - sorriu e viu o macaco na árvore. Então, cheguei no pedaço da história em que a floresta inteira canta para Jacó, o pequeno jacaré que vivia a angústia de procurar seu soninho. Comecei a cantar a musiquinha do livro, como uma cantiga de ninar, bem baixinho e suavemente. Então a avó e minha amiga Elaine começaram a cantar junto comigo, cada qual ainda mais suavemente... Éramos nós três juntas, na angústia de tentar apaziguar a dor do menino pela cantiga de ninar, pela história. "...nana, Jacó, é hora de descansar..." O momento foi mágico.
    Ao final, o menino sorriu e fechou os olhinhos. Não consegui dizer nada nem para ele e nem para a avó. Não precisava, o que tínhamos que fazer havíamos feito. E com o maior amor do mundo. Jamais me esquecerei dessa experiência. Vou me lembrar do rostinho do menino e do sorriso da avó para sempre. Que bom que tive essa oportunidade. Naquele sábado chuvoso, o Sol entrou para mim, ali, naquele quarto.





segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Mais prá lá do Quipracá !

Contar histórias no Centro Cultural São Paulo no Dia das Crianças foi um presente! Um projeto iniciado em março deste ano, que vingou da maneira mais gostosa, divertida e criativa que todos nós poderíamos esperar. Tudo começou quando eu, Rosita Flores e Fábio Lisboa estávamos juntos lá no CCSP e Valéria Zanchita, do setor de Bibliotecas, nos pediu um projeto. Citou também o nome da contdora Maria Cecília Ferri, que nós fomos rapidamente buscar. E aí, depois de meses, apresentamos um trabalho maravilhoso que durou o dia todo. Não é falta de modéstia não, foi muito, muito bom. Ainda estamos na fase de juntar todas as fotos e mostrar a alegria daquele dia. Isso quer dizer que ainda vou postar mais fotos aqui. Mas acho que é preciso dar um prévia.

De nossa parte, a contadora Alexandra Pericão, a musicista Tamara, e eu, trabalhamos muito em um texto muito divertido, da Flávia Muniz, chamado Mais prá lá que Quipracá. Adaptamos também muitas poesias para as crianças, pequenos poemas, lindos, lúdicos, de rimas divertidas e inteligentes. Tudo isso somado a muita música e brincadeiras. O resultado não poderia ser melhor !

domingo, 16 de outubro de 2011

Proteção

Adoro essa história que  trata da maneira como mulheres de um reino encontraram para acabar com as guerras declaradas por seu insano rei.  Atos suaves, generosos até, porém extremamente corajosos, decididos e certeiros. A meu ver, como devemos levar a vida. Só poderia ser de Marina Colasanti.

Naquela cidade

Era só o Sol lançar o seu primeiro raio por cima dos muros e abriam-se as portas daquela cidade, deixando sair homens armados.  Apenas um punhado de cada vez, sem couraça ou elmo, e a pé. Mas comandados pó cavaleiros reluzentes e suficientes para tomar um castelo, conquistar uma terra. Nenhum deles estava de volta à tardinha,  quando as portas eram fechadas. Outros partiriam na manhã seguinte.

Assim é que os homens daquela cidade nunca sabiam se terminariam seu serviço: o carpinteiro  talvez deixasse o seu lenho por aplainar, se os homens do rei viesse buscá-lo, trocando sua plaina por uma espada. Talvez queimasse o pão no forno daquela cidade, se requisitassem o padeiro, roçando-lhe seu avental pelo escudo. A jarra era abandonada no torno, o tecido esquecido no tear,  e as mós do moinho rodavam, rodavam, sem que nenhum grão lhes caíssem entre os dentes, enquanto o oleiro, o tecelão, o moleiro saíam pela grande porta, marchando no mesmo passo.

Mas o rei, ah! O rei nunca parava de assinar. Com sua pena de ganso, seu sinete de ouro, assinava e lacrava declarações de guerra, alianças, tratados, sem que jamais alguém viesse interrompê-lo.

Então foi primavera. E, se alguém naquela cidade tivesse prestado atenção, teria percebido entre o primeiro cantar dos pássaros e o vibrar das folhas novas um ruído diferente, um farfalhar ligeiro, roçar de escama ou pano sobre as pedras do chão. E se, tendo prestado atenção, alguém se debruçasse na janela à noite, veria talvez na densa sombra dos cantos, nos negros poços cavados pela lua, o vulto esquivo de uma mulher, a silhueta de outra, e mais uma, escorrendo suas longas saias , esgueirando seus véus, negro sobre o negro avançando na escuridão.  Não iam longe as mulheres, não faziam grande coisa. Na mão branca, sob as vestes, cada uma trazia um graveto, um só. Que depositava aos pés do palácio do rei. Noite após noite, as mulheres daquela cidade, como pássaras, depositavam o seu raminho. E porque era primavera, aconteceu que um ramo ou outro estivesse florido.  A princípio, os servos do rei varreram os raminhos. Depois, vendo que as flores amanheciam frescas no orvalho, e tomados eles mesmos por um certo encantamento primaveril, consideravam aquilo com uma homenagem e deixaram que acumulassem, enfeitando os muros cinzentos. Um ramo entrelaçando a outro crescia lentamente ao redor do palácio o enorme ninho.

Quentes faziam-se as noites com o chegar do verão. A primeira chama, tão pequena, nem pareceu esquentar mais o ar. É provável que ninguém sequer a tivesse visto, levada ligeira pela Mao branca. Uma pequena chama não faz barulho. Nem duas. A segunda veio do outro lado da cidade, e que a viu certamente a confundiu com um vagalume. Se alguém percebeu a terceira, ninguém sabe. No liso veludo da noite, uma vela aqui, um centelha acolá, uma tocha lá longe... vieram chegando, procurando aconchego no ninho. Uma chama pequena não faz barulho, nem duas. Talvez somente um leve estalo, rascar seco de quem lambe com língua áspera. Mas, um estalo aqui, outro acolá, de repente um ronco medonho ergueu-se do ninho, como se em seu miolo acordasse incontida fera.  E roncando, gemendo e retorcendo-se no ar, a imensa labareda subiu pelos muros, entrou pelas janelas, abocanhou as cortinas, abraçou todo o palácio.
Arderam os pergaminhos do rei, o calor secou seus tinteiros. A pena de gancho voltejou por um instante antes de se desfazer em centelhas. O ouro do sinete escorreu em gotas pela mesa. No palácio, em chamas, o rei tentava em vão apagar o incêndio com seu cetro, e já o fogo lhe beijava as vestes.

Lá longe, seu campo recém conquistado, os homens deitados entre as hastes de cevada voram o horizone clarear. Mas era do lado do palácio, do lado do poente, e ainda faltava muito para o amanhecer. Então souberam que não haveria outra batalha no dia seguinte. E nem foi preciso esperar o sol para encontrar o caminho de volta.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Ubuntu

A jornalista e filósofa Lia Diskin, em um Festival Mundial da Paz, presenteou a todos com um caso de uma tribo na África chamada Ubuntu. Ela contou que um antropólogo estava estudando os usos e costumes da tribo e, quando terminou seu trabalho, teve que esperar pelo transporte que o levaria até o aeroporto de volta pra casa. Sobrava muito tempo, mas ele não queria tentat catequizar os membros da tribo; então, propôs uma brincadeira pras crianças, que achou ser inofensiva. 
Comprou então uma porção de doces e guloseimas na cidade, botou tudo num cesto bem bonito com laço de fita e tudo e colocou debaixo de uma árvore. Aí ele chamou as crianças e combinou que quando ele dissesse “já!”, elas deveriam sair correndo até o cesto, e a que chegasse primeiro ganharia todos os doces que estavam lá dentro.
As crianças se posicionaram na linha demarcatória que ele desenhou no chão e esperaram pelo sinal combinado. Quando ele disse “Já!”, instantaneamente todas as crianças se deram as mãos e saíram correndo em direção à árvore com o cesto. Chegando lá, começaram a distribuir os doces entre si e a comerem felizes.
O antropólogo foi ao encontro delas e perguntou porque elas tinham ido todas juntas se uma só poderia ficar com tudo que havia no cesto e, assim, ganhar muito mais doces.
Elas simplesmente responderam: “Ubuntu, tio. Como uma de nós poderia ficar feliz se todas as outras estivessem tristes?”
Ele ficou desconcertado! Meses e meses trabalhando nisso, estudando a tribo, e ainda não havia compreendido, de verdade,a essência daquele povo. Ou jamais teria proposto uma competição, certo?
Ubuntu significa: “Sou quem sou, porque somos todos nós!”

sábado, 8 de outubro de 2011

A lua e muito mais no Centro Cultural São Paulo



A lua pinta a rua de prata
E, na mata, a lua parece
um biscoito de nata.
Quem será que esqueceu a lua acesa no céu?


Esta linda poesia faz parte da história que vamos contar na próxima quarta-feira, no Centro Cultural São Paulo, em homenagem ao Dia das Crianças. É um repertório que inclui história, música, poesia, brincadeiras e muito mais. As contadoras são Vanessa Meriqui, Alexandra Pericão e Tamara. Esperamos que todos gostem, porque nós estamos nos divertindo muito na preparação do trabalho. Será às 13h. Apareça lá !

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O comprador de sonhos

Minha amiga Antonia Andrea, contadora não só de mão cheia, mas de muitas línguas e trava-linguas cheias, me pediu essa história. Trata-se de um conto popular mexicano dos mais maravilhosos, que eu adoro contar. Sensível, generosa e bela. Assim é esta história, quero compartilhar. Aqui vai.

O Comprador de Sonhos

Durante três anos ele cuidou das árvores e colheu seus frutos... mas não era feliz... tinha saudades de sua “sierra.”   Para enfrentar seu destino sonhava com o dia em que finalmente voltaria levando consigo uma mala enorme cheia de presentes...e todos gritariam: “ele voltou...ele voltou...” E todos estariam muito felizes. Ele tinha tanta vontade de ser feliz!
Ao final de três longos anos, ele decidiu que era hora de voltar. Recebeu seu salário. Não compreendia muito bem as contas que o capataz fazia... “_Por três anos de trabalho receberá... aluguel e comida a descontar...perda de uma machadinha a descontar... por sua negligencia, dez árvores produziram menos...a descontar...eis, então, seu ganho: três moedas de cobre. O próximo!”   O índio se afastou lentamente... em sua mão apenas três moedinhas de cobre. Era tudo!

À noitinha chegou à pequena cidade mais próxima. Era alegre, movimentada...as pessoas pareciam felizes. As lojas cheias de coisas maravilhosas...mas caras. Porém, ao passar por uma vitrine de uma loja de doces, ficou deslumbrado. Havia flores, de todas as cores, de açúcar impressionantemente lindas. Uma moeda de cobre...que custava cada uma. Comprou uma charmosa rosa vermelha para presentear Panchita a índia mais linda da aldeia. Agora, com apenas duas moedas comeria pouco, e pronto!

Pouco a pouco a cidade foi adormecendo...estava cansado e sentia muita fome, mas preferiu deixar para comer no dia seguinte antes de se colocar a caminho de casa.
 Foi até a uma fonte pública e bebeu muita água para distrair o estômago... já satisfeito percebeu um homem quase sem forças com uma tigela na mão tentando pegar água. Parecia muito doente. Então, o índio pega a tigela e ajuda o homem a beber a água, como se fosse uma criança...O homem estava tão fraco que era incapaz de segurar a própria tigela e o índio sabia bem do que é que ele sofria...

O índio, então correu até um vendedor de tortilhas e pediu uma porção bem farta e pagou com uma moeda de broze... ofereceu a tortilha ao homem que comeu lentamente apreciando cada mordida.
 O homem, então agradeceu e ofereceu um presente, um pequeno saco:__É para você...A felicidade, talvez...mas eu não sei.Eram sementes redondas e amarelas, da cor do ouro. O índio aceitou e foi embora a procura de um lugar para dormir.Já amanhecerá na porta de um albergue. De dentro vinha um delicioso cheiro de tortilhas. O índio entrou e pediu uma para matar sua fome antes de seguir viagem...

Enquanto esperava, um homem descia pelas escadas e disse:
__Chica, traga-me rápido a comida e eu lhe contarei um belo sonho...
 __Sonhei que uma deusa de cabelos longos e negros com a noite...era minha esposa. Nós morávamos bem no meio de uma floresta de ouro... aquele que colhesse um galho de ouro na floresta estaria livre da fome. Neste lugar todos eram felizes e vinham à nossa floresta e colhiam braçadas de galhos de ouro e partilhavam uns com os outros toda essa riqueza e felicidade. E eu olhava toda aquela gente e me sentia ainda mais feliz... Não é belo o meu sonho?
 O índio ficou impressionado e pensou: “este homem parece ter sorte e tem tudo o que quer, não precisa de um sonho para ser feliz. Se eu gastar minha última moeda com comida, amanhã ainda terei fome. Mas, se eu comprar esse sonho, serei feliz amanhã, e depois, e depois...”
 Então, aproximou-se do homem e disse:
 __Quero comprar o seu sonho.O homem ficou assustado e começou a rir.
 __O que? Você quer comprar o meu sonho? Mas para que ele poderá lhe servir?
 __Ele me servirá para me fazer feliz. Aqui está o dinheiro.O índio colocou sua última moeda sobre a mesa; o homem não podia acreditar.
 __Uma moeda? É pouco, mas ainda é muito para pagar um sonho. Guarde seu dinheiro eu lhe dou o sonho.
 __Não estou mendigando, Quero comprar o seu sonho.
 Vendo que o índio falava com seriedade e convicção, vendeu-lhe o sonho por uma moeda de cobre.
 

O índio saiu do albergue feliz por ter comprado um bonito sonho e já pegava o caminho quando Chica veio correndo ao seu encontro.
 __Você vai para “Sierra”? Eu queria que passasse por Achulco, a aldeia onde mora minha mãe.
__E o que você quer que eu diga a ela?
__Conte a ela seu sonho. Minha mãe é sozinha e triste. Ela ficará feliz com seu bonito sonho.
 __Mas, eu não sei contar história...
 __Mas é o seu sonho! Quem poderia conta-lo melhor? Ela então, entregou-lhe uma sacola com tortilhas, pão, tomates e pimenta. __Tome! Este é meu presente para sua viagem. 

Ele não pode negar o pedido e logo, à tarde chegou ao vilarejo e procurou pela mulher. Curiosos lhe seguiram até a porta da mãe de Chica, queriam saber das novidades. Logo a sala da casa estava cheia, e a mãe de Chica pediu silêncio: __ Este rapaz teve um sonho magnífico e minha filha o mandou aqui para que me contasse. Cada palavra pronunciada é a palavra da verdade. Chica é testemunha.
Então, ele contou seu sonho e era realmente lindo e encantou a todos do vilarejo.Pela manhã, estava de partida quando um homem veio procurá-lo. __Minha mulher e filhos moram num vilarejo que fica a um dia de caminhada daqui. Se você for passar por lá, poderia contar-lhes seu sonho?

O índio consentiu e o homem decidiu segui-lo par ouvir mais uma vez o seu sonho. E a notícia corria de boca em boca... e por varias vezes se desviou de sua rota par contar seu sonho por encomenda de alguém. Mas fazer o que? Só um louco se recusaria a dar alegria aos outros.

Até que um dia, finalmente chegou em seu vilarejo. Logo na entrada, viu um bela jovem de cabelos longos e negros com a noite, era Panchita. Seu coração palpitou forte e disse:
__Panchita, trouxe-lhe um presente. E lhe entregou a delicada rosa de açúcar vermelha.

Todos estavam felizes com sua volta. E à noite, em torno da fogueira, ele contou seu sonho a todos e mostrou as sementes de ouro que havia ganhado e uma senhora idosa aproximou-se e examinou-as e disse:  __É um grão d’ixium, o milho. Mas esta felicidade não é para nós...jamais brotará em nossas terras áridas.  Mas vamos plantá-las... junto com meu sonho.

E numa bela manhã de outono, o índio correu até os campos e pode ver seu lindo sonho...lá havia uma bela floresta: o milho amadurecera e, de tão bonito, de tão maduro, parecia de ouro. E no meio daquela floresta dourada, Panchita dançava com os cabelos soltos ao vento, cabelos longos e negros como a noite...e, de tão bela, parecia uma deusa!