quarta-feira, 25 de julho de 2012

Feliz por comemorar o Dia do Escritor

O que há mais para dizer, se justamente hoje consigo postar esse convite? Estou feliz, feliz!

“ As palavras não nascem amarradas,
elas saltam, se beijam, se dissolvem
no céu livre, por vezes um desenho,
são puras, largas, autênticas, indevassáveis..."

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Curso na Associação Viva e Deixe Viver


Vejam o curso que darei na semana que vem, dia 2. 
As informações estão abaixo.

Contar para encantar - a arte de contar histórias.

com Vanessa Meriqui


Descubra como encantar crianças e adultos através da contação de histórias.

Objetivo: 
O curso trará abordagem sobre como, através da oralidade, as histórias começaram a ser registradas ao longo dos séculos, quais as diversas formas de narrativas, além do conteúdo técnico sobre as diferentes linguagens, recursos técnicos internos e externos para contar uma história, a estrutura do contar e noções de repertório.

Metodologia:
- Apresentação de conteúdo teórico sobre o tema
- Desenvolvimento do conteúdo técnico
- Apresentação de possibilidades técnicas para o contar
- A prática do contar: demonstração das diferentes possibilidades


Conteúdo:- Um pouco de história – oralidade e registro das histórias ao longo dos séculos.
- Como e por que as histórias nos tocam
- Diversas formas de narrativa e sua luz sobre o mundo
- Classificação dos contos
- As linguagens: a voz / o corpo / o olhar/ o silêncio
- Recursos externos
- Estrutura do contar
- Repertório


Vanessa Meriqui:
Contadora de histórias, escritora de livros infantis e jornalista. É Pós-graduada no curso A Arte de Contar Histórias, abordagens poética, literária e performática. Além de dar cursos e palestras, conta histórias em livrarias, centros culturais e escolas.
• INFORMAÇÕES
02/08 • quinta-feira

• HORÁRIO: das 18h45 às 21h45
 

• INVESTIMENTO:
 R$60,00* (4 vagas para voluntários Viva por R$50,00*)

• VAGAS: 30
• PÚBLICO ALVO: professores, contadores de histórias, voluntários e demais interessados
 

• LOCAL:
 Sede da Associação Viva e Deixe Viver • Rua Fortunato, 140 - Santa Cecília • São Paulo / SP - CEP: 01224-030 (próximo a estação de metrô Santa Cecília)


terça-feira, 17 de julho de 2012

Maria Eduarda na Livraria da Vila

Maria Eduarda é um saco sem fundo! Tudo cabe em seu estômago. Na verdade, o que falta para Maria Eduarda é a fantasia, que ela vai encontrar comendo livros. Comendo livros!?!?!?! Sim, Maria Eduarda vai devorar o mundo... E você está convidado para conhecê-la neste final de semana. No sábado, será na Livraria da Vila de Moema e, no domingo, na loja da alameda Lorena, ambas a partir das 16h. Te espero lá.

domingo, 15 de julho de 2012

Porque tecer é preciso

Esta é uma das mais belas histórias de Marina Colasanti, sem dúvida nenhuma. Merece ser lida e contada milhões e milhões de vezes.

A moça tecelâ
Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear. Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte. Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava. Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.  Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza. Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida. Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.
— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente. — Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata. Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.
Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre. — É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos! Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. 

Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo. Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Sobre escolhas



Não me canso desta história. Me toca profundamente. Já li e a contei muitas e muitas vezes. A reflexão é sobre o desafio diário das escolhas. Muitas vezes, elas pesam demais, tornando nossos passos infinitamente difíceis. Por isso adoro essa história de Marina Colasanti, chamada "As Notícias e o Mel". Que maravilhosa escolha a desse rei... E que bom saber que, às vezes, podemos ter a condição de fazer opções em nossas vidas.


As Notícias e o Mel

Um dia o rei ficou surdo. Não como uma porta, mas como uma janela de dois batentes.  Ouvia tudo do lado esquerdo. Do lado direito, não ouvia nada. A situação era incômoda, Só atendia aos ministros que sentavam de um lado do trono. Aos outros, nem respondia. E até mesmo de manhã, se o galo cantasse do lado errado, Sua Majestade não acordava e passava o dia inteiro dormindo.
Foi quando mandou chamar o gnomo da floresta. E o gnomo, obediente, apareceu na corte. Veio voando, com suas asinhas. Tão pequeno que, embora todos avisados de sua chegada, quase o confundiram com um inseto qualquer.
Chegou e logo se entendeu com o rei, estabelecendo um trato.  Ficaria morando no ouvido direito e repetiria para dentro – e bem alto – tudo o que ouvisse lá de fora. Tendo asas, e desejando, poderia aproveitar seu parentesco com as abelhas para fabricar no ouvido real alguma cera e um pouco de mel. O trato funcionou às mil maravilhas. Tudo o que o gnomo ouvia, repetia em voz bem alta nas cavernas da orelha, e o eco e a voz do gnomo chegavam até o rei, que passou a entender como antigamente, de lado a lado.
Correu o tempo. Rei e gnomo, assim tão vizinhos, foram ficando cada dia mais íntimos. Um já sabia tudo do outro e era com prazer que o gnomo gritava e era com prazer que o rei ouvia o zumbidinho das asas atarefadas no fabrico da cera e do mel. Uma certa doçura começou a espalhar-se do ouvido real para a cabeça e o rei foi ficando, aos poucos, mais bondoso.
Foi essa a causa da primeira mentira.
O Primeiro Ministro deu uma má notícia no ouvido esquerdo e o gnomo, não querendo entristecer o rei, transmitiu uma boa notícia no ouvido direito.
Foi essa a primeira vez que o rei ouviu duas notícias ao mesmo tempo. Foi essa a primeira vez que o rei escolheu a notícia melhor ...
Houve outras depois.
Sempre que alguma coisa ruim era dita ao rei, o gnomo a transformava em alguma coisa boa. E sempre que o rei ouvia duas notícias, escolhia a melhor delas.
Aos poucos, o rei foi deixando de prestar atenção naquilo que lhe chegava do lado esquerdo, E até mesmo de manhã, se o galo cantasse desse lado e o gnomo não repetisse o canto do galo, Sua Majestade esquecia-se de ouvir e continuava dormindo tranqüilo até ser despertado pelo chamado do amigo.
De um lado o mel escorria. Do outro, chegavam as preocupações, as tristezas, e todos os ventos maus pareciam soprar à esquerda de sua cabeça.
Mas o rei tinha provado o mel e a doçura era agora mais importante do que qualquer notícia. Entregou o trono e a coroa para o Primeiro Ministro. Depois chamou o gnomo para junto da boca e murmurou-lhe baixinho a ordem.
Obediente, o gnomo voou para o lado esquerdo e, aproveitando seu parentesco com as abelhas, fabricou algum mel e abundante cera, com a qual tapou para sempre o ouvido do rei.

sábado, 7 de julho de 2012


Quem não pode estar no evento de junho, vai poder conhecer Maria Eduarda agora em julho. Espero todos lá. 

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Um doce sonho

Minha filha Mariana manifestou hoje no Facebook a sua saudade. E muitos quiseram saber que sonho era esse a que ela se referia. Abaixo a história dos sonhos que o pai dela colocou em um saquinho.


Colando sonhos

Era uma vez um homem. Um homem bom, carinhoso, amoroso, o melhor. Ele amava muito sua família. E era muito amado também.
Um dia, como sempre fazia, ele levou suas filhinhas à escola. Elas eram pequenas, a mais velha, de sete anos, estudava em uma escola. A menor, de cinco, estudava em outra.  E se tinha uma coisa que elas gostavam demais era quando ele, ao deixá-las na escola, entregava um lanche surpresa para cada uma delas.
Naquele dia, ele entregou sua pequena surpresa para a mais velha e pediu que ela abrisse o saquinho somente na hora do recreio.
Quando a maior passou pelo portão, o pai disse para a pequena que ela também receberia o saquinho dela. Então ela perguntou ao pai o que tinha no saquinho. Ele disse  “sonhos”.
Durante todo o caminho para a sua escola, a menininha ficou pensando como o seu pai era maravilhoso e diferente, porque conseguia tirar os sonhos sonhados à noite de sua cabeça e colocar em saquinhos. 
E ainda por cima entregar para as filhas comerem no recreio!!!
Ela mal conseguiu esperar pela hora de saber qual dos seus sonhos o pai havia capturado e colocado no saquinho.
Quando chegou o horário, ela abriu o tão precioso saquinho com o coração batendo forte. E encontrou dentro dele uns deliciosos sonhos comprados em uma padaria ali perto... A menina pensou no pai e imaginou que ele deveria estar sorrindo neste momento. Colocou o doce na boca, mastigou vagarosamente e pensou o quanto o seu pai era mesmo maravilhoso!
Essa história é real e esse pai, Fernando, que hoje está em outro plano, merece sim todos os nossos sonhos. Os doces, os sonhados, os imaginados e os nascidos da saudade.
Te amamos, Fe.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Memória e generosidade



GUILHERME AUGUSTO ARAÚJO FERNANDES
Escrito por Mem Fox

Era uma vez um menino chamado Guilherme Augusto Araújo Fernandes e ele nem era tão velho assim.
Sua casa era ao lado de um asilo de velhos e ele conhecia todo mundo que vivia lá.
Ele gostava da Sra. Silvano, que tocava piano.
Ele ouvia as histórias arrepiantes, que lhe contava o Sr. Cervantes.
Ele brincava com o Sr. Valdemar, que adorava remar.
Ajudava a Sra. Mandala, que andava com uma bengala.
E admirava o Sr. Possante, que tinha voz de gigante.
Mas a pessoa que ele mais gostava era a Sra. Antônia Maria Diniz Cordeiro, porque ela também tinha quatro nomes, como ele.
Ele a chamava de Dona Antônia e contava-lhe todos os seus segredos.
Um dia, Guilherme Augusto escutou sua mãe e seu pai conversando sobre Dona Antônia.
- Coitada da velhinha - disse sua mãe.
- Por que ela é coitada? - perguntou Guilherme Augusto.
- Porque ela perdeu a memória - respondeu seu pai.
- Também, não é para menos - disse sua mãe. - Afinal, ela já tem noventa e seis anos.
- O que é memória? - perguntou Guilherme Augusto.
Ele vivia fazendo perguntas.
- É algo de que você se lembre - respondeu o pai.
Mas Guilherme Augusto queria saber mais; então, ele procurou a Sra. Silvano, que tocava piano.
- O que é memória? - perguntou.
- Algo quente, meu filho, algo quente.
Ele procurou o Sr. Cervantes, que lhe contava histórias arrepiantes.
- O que é memória? - perguntou.
- Algo bem antigo, meu caro, algo bem antigo.
Ele procurou o Sr. Valdemar, que adorava remar.
- O que é memória? - perguntou.
- Algo que o faz chorar, meu menino, algo que o faz chorar.
Ele procurou a Sra. Mandala, que andava com uma bengala.
- O que é memória? - perguntou.
- Algo que o faz rir, meu querido, algo que o faz rir.
Ele procurou o Sr. Possante, que tinha voz de gigante.
- O que é memória? - perguntou.
- Algo que vale ouro, meu jovem, algo que vale ouro.
Então Guilherme Augusto voltou para casa, para procurar memórias para Dona Antônia, já que ela havia perdido as suas.
Ele procurou uma antiga caixa de sapatos cheia de conchas, guardadas há muito tempo, e colocou-as com cuidado numa cesta.
Ele achou a marionete, que sempre fizera todo mundo rir, e colocou-a na cesta também.
Ele lembrou-se, com tristeza, da medalha que seu avô lhe tinha dado e colocou-a delicadamente ao lado das conchas.
Depois achou sua bola de futebol, que para ele valia ouro; por fim, entrou no galinheiro e pegou um ovo fresquinho, ainda quente, debaixo da galinha.
Aí, Guilherme Augusto foi visitar Dona Antônia e deu a ela, uma por uma, cada coisa de sua cesta.
"Que criança adorável que me traz essas coisas maravilhosas", pensou Dona Antônia.
E então ela começou a se lembrar.
Ela segurou o ovo ainda quente e contou a Guilherme Augusto sobre um ovinho azul, todo pintado, que havia encontrado uma vez, dentro de um ninho, no jardim da casa de sua tia.
Ela encostou uma das conchas em seu ouvido e lembrou da vez que tinha ido à praia de bonde, há muito tempo, e como sentira calor com suas botas de amarrar.
Ela pegou a medalha e lembrou, com tristeza, de seu irmão mais velho, que havia ido para guerra e que nunca voltou.
Ela sorriu para a marionete e lembrou da vez em que mostrara uma para sua irmãzinha, que rira às gargalhadas, com a boca cheia de mingau.
Ela jogou a bola de futebol para Guilherme Augusto e lembrou do dia em que se conheceram e de todos os segredos que haviam compartilhado.
E os dois sorriram e sorriram, pois toda a memória perdida de Dona Antônia tinha sido encontrada, por um menino que nem era tão velho assim.