Sabe quando a gente se contenta com as coisas como estão, se conforma etc e tal? Pois é, um perigo isso. Como eu ainda respeito o meu poder de escolha e, às vezes, de indignação, acho interessante contar a história abaixo. É de Adriana Falcão, extraída do livro "Sete histórias para contar".
Qualquer coisa serve
Biscoito? A menina gostava.
Boneca? Gostava.
Dia de chuva? Gostava também.
Barata? Também gostava.
A menina gostava de qualquer coisa boa e de qualquer coisa ruim. Ela nem pensava. Ia logo gostando de qualquer brincadeira, de qualquer besteira, qualquer programa de televisão, de qualquer música, qualquer nota, qualquer lugar, qualquer um.
Nada precisava ser bom para agradar a menina.
Tudo estava bom do jeito que estava.
E tudo que estava em volta dela foi ficando com uma preguiça de ficar melhor. E foi ficando de qualquer jeito. Cada besteira, cada brincadeira, cada programa de televisão. Cada música, cada nota, cada um, cada lugar.
Até que um dia, a menina ouviu alguém falar assim "Essa menina gosta de cada coisa..."
E ela não gostou nem um pouco disso.
Finalmente, existia uma coisa no mundo de que a menina não gostava.
E passou a separar as coisas boas das coisas ruins.
Mas o melhor é que, a partir de então, cada brincadeira, cada besteira, cada programa de televisão, cada música, cada nota, cada lugar, cada pessoa, cada coisa, tinha que ser melhor para agradar a menina. E, devagarzinho, aos pouquinhos, pedacinho por pedacinho, o mundo foi ficando melhor,
junto com cada coisa.
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