quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A Galinha Galinda

Escrevi esta história há muito tempo. E sou apaixonada por ela, poque me dá uma dimensão fantástica do amor que podemos sentir por filhos que não são nossos. Não tenho dúvidas de nossa capacidade de amar. Só tenho duvidas quanto à nossa capacidade de saber disso. Bom, aqui vai a experiência da galinha Galinda.

Galinda e seus filhotes

 Galinda era uma galinha muito brava. Seus filhinhos gostavam muito dela, mas morriam de medo quando ela ficava brava com eles, porque ela punha todos de castigo.  Numa manhã, a galinha Galinda levou um tropeção e caiu de cabeça em uma pedra. Seus filhinhos ficaram muito preocupados, porque ela desmaiou. Mas quando acordou, com um enorme galo roxo na testa (sim, galinha tem uma testa pequenina, entre a cabeça e o bico) eles pensaram no quanto ela ficaria muito brava pelo seu próprio tombo. Então eles se esconderam. Galinda levantou, olhou ao redor que não sabia o que tinha acontecido. As amigas do galinheiro vieram perguntar se ela estava bem, mas ela não reconheceu ninguém. É que a Galinda tinha perdido a memória. Na verdade, ela nem sabia mais que era uma galinha, e só se lembrava de que tinha quatro filhos, mas nem sabia mais como eles eram...

Pobre Galinda! Saiu procurando seus filhinhos. “Você viu meus filhos por aí?”, perguntava ela, mas ninguém sabia onde eles estavam, porque eles tinham ido para um esconderijo muito escondido mesmo. Até que ela encontrou um gatinho, muito bebezinho, miando muito. “Você viu meus filhinhos por aí?” não, disse ele, mas estou procurando a minha mamãe. Por acaso, você é minha mamãe? Perguntou o gatinho, querendo um colinho. Ela pensou um pouco e disse: se vc está procurando a sua mamãe e eu estou procurando meu filhinho, é porque eu sou sua mamãe.  O gatinho ficou muito feliz. E ela disse: mas agora precisamos procurar seus outros irmãozinhos.

Então os dois saíram andando, o gatinho saltitando à frente e a galinha, que andava mais devagar, logo atrás. No caminho, havia um cachorrinho, muito triste. Porque vc está triste? perguntou o gatinho. Porque não sei onde está minha mãe, respondeu ele, latindo de mansinho. O gatinho logo disse: Não se preocupe, ela vem vindo aí atrás. Eu também tinha me perdido dela, mas logo ela me achou. Assim que Galinda se aproximou, o gatinho disse: veja mamãe, ele também está procurando por você. Se é assim, é porque ele é meu irmãozinho, miou feliz. A galinha olhou, viu que eles eram um pouquinho diferentes, mas como coração de mãe entende todas as diferenças dos seus filhos, ela rapidamente respondeu. “puxa, que bom, então vamos procurar os outros, que também não devem estar longe”

Lá se foram os três buscando o resto da família. Não demorou muito para o cachorrinho ver na estrada um pequeno coelho. Veja mamãe, tem alguém ali. Não será meu outro irmãozinho?  “é possível”, disse a mamãe Galinda. Vcs que andam mais rápido, cheguem até ele e vejam se ele está nos procurando. O gatinho e o cachorrinho correram e o coelhinho, que estava chorando muito, nem se assustou quando eles chegaram perto. “Porque vc está chorando?. Não sei onde está minha família. Eu dormi atrás daquela árvore e eles sumiram. Será que se esqueceram de mim?” Não, é que a nossa mamãe foi nos buscar primeiro, veja, ela já vem vindo aí atrás”. O coelhinho, que era muito bebezinho, ficou tão feliz que nem percebeu o quanto ele não se parecia com nenhum deles. “Ah, que bom, agora que só falta mais um dos meus filhinhos, logo estaremos todos em casa”, pensou Galinda, percebendo que seu coraçãozinho de galinha e de mãe estava começando a ficar mais tranqüilo.

Antes que anoitecesse, Galinda e seus três filhotes encontraram outro animalzinho. Era um macaquinho que tinha caído da caravana de um circo. Como ninguém percebeu a queda, ele ficou perdido na estrada. “Veja mamãe, nosso outro irmãozinho logo ali”, disse o coelhinho. Correram para lá, abraçando e fazendo festa. O macaquinho, que adora fazer macaquices com todos, adorou seus novos irmãos. Juntos, os cinco voltaram felizes para o galinheiro da fazenda.

Ao chegarem lá, as amigas de Galinda correram para ela para saber por onde ela havia andando o dia inteiro. E contaram também que seus pintinhos, arrependidos de terem se escondido, estavam muito preocupados e chorando pela sua falta. Galinda estranhou muito aquela conversa, porque afinal de contas estava com seus quatro filhotinhos ali. Quando as companheiras de Galinda viram os animais, tomaram um susto. Pensaram que ela tinha enlouquecido e, por mais que tentassem convencê-la de que eles nem aves eram, não conseguiram fazer com que ela mudasse de idéia. E Galinda ficou brava com elas. “Como assim não são meus filhos? Eu tenho tanto amor por eles como eles têm por mim, é claro que são meus filhos”. Então as outras galinhas trouxeram os pintinhos, verdadeiros filhos de Galinda, para falar com ela e ver se ela recuperava de vez a memória. E quando ela os viu, sabem o que aconteceu?

Ela não recuperou a memória não. Mas descobriu que o seu coração de mãe era imenso. E assim que chegou perto dos pintinhos pensou, “pobrezinhos, estão sem mamãe. Então eu posso cuidar deles”. E assim fez...

De maneira que, se você for hoje lá naquela fazenda, conhecerá a enorme família da Galinda: quatro pintinhos, um gato, um cachorro, um coelho e um macaco.
Sim, todos são amigos e se amam como verdadeiros irmãos.
Sim, todos dormem no galinheiro, juntinhos, sem brigas.
E, sim, depois de algum tempo Galinda recuperou a memória. Mas nem por isso pensou que foi uma loucura criar animais tão diferentes como filhos.
 Afinal, coração de mãe é bem maior que a cabeça de uma galinha. 

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