Final de semana cheio de histórias. A começar no sábado, pela manhã, quando participei do programa da Elaine Gomes, Que História é Essa. Elaine e eu, que não paramos de falar um minuto, falamos do lançamento do livro dela, na semana passada, na Livraria Cultura, falamos do ano que está terminando, do que vai começar, de planos, livros, e um monte de coisas. E ainda deu tempo para contar histórias. O repertório foi montado com "Contos de Generosidade". Entre eles, contei uma história que faz parte do livro O Dom da História, de Clarissa Pinkola Estés. Conectada ao programa, estava Elaine Cunha, que pediu no ar para que eu postasse esta história. Então aqui vai, com um beijo especial para as Elaines que dividiram a manhã de sábado comigo.
Viviam apaixonados uma linda moça e um belo rapaz. Embora tivessem perdido muito com a guerra, eles ainda possuíam dois bens valiosos para os dois. O rapaz havia conseguido não se desfazer do relógio de bolso de seu avô e se sentia-se orgulhoso em informar as horas tirando-o de seu bolso do colete surrado. E a moça, apesar de mal nutrida há muito tempo, ainda tinha uma longa e vasta cabeleira, que mais parecia um manto quando a moça a soltava. E assim, ricos dessa forma simples, o jovem casal levava a vida, tentando ganhar alguns centavos com a vendas de pequenas frutas.
O Natal chegou e a moça queria muito dar ao marido um presente, depois de tantos natais. Mas não tinha dinheiro. Ao invés de se lamentar, arquitetou um plano: vestiu seu casaco surrado e saiu para a rua. Passou por lojinhas com pouquissimas mercadorias, entrou em um prédio escuro e bateu na porta de uma senhora que, antes da guerra, vendia perucas para mulheres ricas. Em três tesouradas, seus lindos e longos cabelos caíram no chão. A velha jogou três moedas nas mãos dela, que correu pra uma rua onde sabia que encontraria um homem que vendia correntes para relógios. Ela comprou uma e correu para casa, feliz da vida, certa de que esse seria o mais querido e inesperado presente para o marido.
Este, por sua vez, estava ocupado em procurar também um presente para a jovem esposa. Dinheiro, tinha pouquíssimo, mas já sabia o que seria. Uns pentes, muito simples, mas que nos longos cabelos da moça, seriam o mais belo adorno que ele já teria visto. Desta forma, não teve dúvidas: vendeu o relógio para comprar o presente da amada. E assim foi, comprou e correu para casa.
Ao chegar, a jovem esposa de cabelos muito curtos o esperava. Ao vê-la, o rapaz mal pode esconder a decepção. Ela, já chorosa, perguntava o tempo todo se ele não tinha gostado, mas que não ligasse, porque os cabelos cresceriam, que os havia cortado por uma causa justa, etc, etc.
Foi quando ele, sem poder dizer nada, lhe entregou os pentes. Ela, ao ver que recebera um presente que não lhe teria utilidade alguma, não disse palavra, pegou o pequeno embrulho da corrente do relógio que havia comprado para ele. O marido, ao receber um presente igualmente inútil, contou-lhe da venda do relógio.
E neste momento, foi um misto de choro e riso. Eles se abraçaram, riram e choraram, fazendo promessas mútuas de que o futuro seria melhor. Afinal, tinham um ao outro. E um grande e verdadeiro amor, o que era o suficiente. E aquela foi a mais inesquecível noite de Natal que ambos tiveram.
Nenhum comentário:
Postar um comentário