sábado, 11 de junho de 2011

O eterno pisca-pisca de Emília

O tema de hoje na palestra da Associação Viva e Deixe Viver, através do qual é feito o maravilhoso trabalho de contar histórias para crianças em hospitais, era sobre morte. Um assunto, confesso, bastante delicado para mim, já que a visita dessa indestrutível dama à minha casa me levou para o mais triste e escuro dos mundos. Mas a palestra foi maravilhosa. E foi fantástico redescobrir esse trecho do livro Memórias de Emília - lido e esquecido por mim há muitos anos – em que a boneca define a questão sobre vida e morte para o Visconde de Sabugosa.
E viva Monteiro Lobato !!

O Eterno Pisca-pisca

...a vida, Senhor Visconde, é um pisca - pisca.
A gente nasce, isto é, começa a piscar.
Quem pára de piscar, chegou ao fim, morreu.
Piscar é abrir e fechar os olhos - viver é isso.
É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda,


Até que dorme e não acorda mais.
A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso.
Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia.
pisca e mama;
pisca e anda;
pisca e brinca;
pisca e estuda;
pisca e ama;
pisca e cria filhos;
pisca e geme os reumatismos;
por fim, pisca pela última vez e morre.
- E depois que morre - perguntou o Visconde.
- Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?

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